sexta-feira, 8 de julho de 2016

Quase dois anos após acidente de trânsito em Porto Velho, sobrevivente vive os traumas da violência


Ivana Brito sofreu um acidente quando voltava de uma festa de aniversário com o  namorado. 

Ivana Brito estava na garupa da moto de seu namorado quando sofreu um acidente (Foto:Hosana Morais/Focas do Madeira)
 
Aos 20 anos, Ivana Magalhães carrega em sua perna marcas que vão acompanhá-la pelo resto da vida. A jovem estudante de enfermagem voltava de uma festa de aniversário com o namorado, quando um motociclista alcoolizado bateu na moto em que o casal estava. O acidente foi à 1h do dia 21 de setembro de 2014 na avenida Sete de Setembro, em Porto Velho.

Por sorte, um médico e duas enfermeiras ajudaram no socorro de Ivana que teve a perna esquerda fraturada com uma fratura exposta na batida. O motociclista embriagado acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A estudante foi levada ao Hospital de Pronto-Socorro João Paulo II e passou por uma cirurgia de emergência.

Ivana retirou o fixador externo após meses do
acidente (foto: Ivana Brito/Arquivo Pessoal)
A jovem afirma que a única ajuda que recebeu do homem que causou o acidente foi a chamada de socorro. “O cara veio antes das enfermeiras e do médico, o homem que bateu na gente chamou o Samu, foi à única coisa que ele fez pela gente mesmo. Chamar o Samu”, conta Ivana.

Após sete meses do acidente, Ivana iniciou a fisioterapia. Mas, mesmo após tirar o fixador externo que estava parafusado em sua perna, o osso não havia se recuperado da batida. Pouco depois, a jovem caiu e procurou atendimento hospitalar. "Voltei com meu médico e ele pediu pra operar, porque do jeito que estava corria o risco de quebrar o pouco que está já havia consertado", explicou Ivana

De acordo com a fisioterapeuta Roberta Pantoja, que cuida do caso da Ivana desde maio de 2015, a jovem melhorou o seu andar com os exercícios. "No começo foi difícil, ela não pisava, o osso dela não consolidava. Então a recuperação foi lenta e quando foi autorizado pelo médico a pisar no chão o osso não estava totalmente colocado. A fraqueza muscular da perna estava muito grande, ela mancava e sentia muita dor. Em novembro de 2015, ela fez a cirurgia para colocar a placa, nessa outra ela recuperou rápido até começar a andar", conta Roberta.

Conforme a fisioterapeuta, após o acidente Ivana anda de acordo com suas possibilidades. "Ela anda normal dentro da limitação dela, a paciente não está melhor, pois não vai assiduamente à fisioterapia", explica Roberta.

Mesmo carregando sequelas físicas de um acidente de trânsito, Ivana fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2014 e em junho de 2015 ela ganhou uma bolsa para estudar enfermagem em uma faculdade particular de Porto Velho. A estudante fez a prova utilizando o fixador externo parafusado a sua perna, mesmo assim ela conseguiu meia bolsa.

Apesar de começar a retomar a vida com a ajuda da fisioterapia, Ivana ainda não pode praticar esporte ou correr, pois sua perna ainda não está 100 % recuperada.
Meses após o acidente a jovem participou de uma audiência sobre o acidente, porém mesmo sem culpar o jovem que causou a batida, ela não conseguiu olhá-lo. “Eu passei do lado dele, mas eu não consegui olhar pro rosto dele. Eu já pesquisei ele no facebook vi tudo. Eu não acho que ele é culpado foi um acidente, mas eu acho que alguns podem ser evitados”, ressaltou Ivana.

Entretanto, após um ano e seis meses do acidente, Ivana ainda não consegue andar na garupa de uma motocicleta. "Eu nunca mais me imaginei em cima de uma moto, sempre andei como passageira", confessou a estudante. Embora a jovem ainda não tenha procurado uma ajuda psicológica, por muito tempo ela carregou consigo o medo das aproximações de motociclistas próximo ao veiculo que se encontrava.
Ivana faz fisioterapia desde maio
de 2015
(Foto: Ivana Brito/Arquivo Pessoal)

 "Depois que eu comecei a voltar a andar de carro assim que eu saí do hospital, sempre quando eu via uma moto muito perto do carro eu ficava com medo. Então no começo mesmo eu fiquei muito apreensiva sim, não saia na rua. Só que hoje em dia eu estou bem mais acostumada", conta Ivana.

Paula Poliana, irmã de Ivana, ficou assustada com a violência com que foi o acidente.  "Apesar de na época eu também andar de moto fiquei com medo dessa violência no trânsito. A falta de responsabilidade das pessoas transformar seu meio de transporte em uma arma. Tenho medo do trânsito em si", conta Paula.

Segundo o psicólogo Antônio Gurgel, é importante que uma vítima de acidente procure um especialista para saber se desenvolveu o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (Tept). “É
extremamente aconselhável que se procure um psicólogo após alguma qualquer situação desse tipo, independente da instauração de um transtorno ou não", explica Gurgel.

Conforme o psicólogo, uma pessoa pode desenvolver o Tept se houver refletidas lembranças do sinistro vivido. "A ligação com o evento tem que ser muito clara, a pessoa geralmente se recorda desse evento repetidamente. Mas, é comum também, um dos mecanismos de defesa que se tem conhecimento é o próprio recalque, a negação", esclarece Gurgel.  

Por fim, o psicólogo acredita que mesmo que uma vítima de acidente não desenvolva o Tept, a experiência traumática pode influenciá-la. 

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