quinta-feira, 26 de junho de 2014

“Nova enchente recorde do Madeira só deve acontecer em 180 anos”, diz Sipam

Segundo o órgão, cálculos permitem estimar a recorrência do fenômeno. Monitoramento do rio Madeira é feito pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais.

Por volta do meio dia de 30 de março de 2014, a régua da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)  para medição do nível do rio Madeira em Porto Velho, marcava 19,74m, nível considerado recorde dos últimos 50 anos. A água inundou casas, desabrigou mais de 20 mil pessoas e fez com que fosse decretado Estado de Calamidade Pública em Rondônia. O fenômeno que assustou as populações dos municípios de Nova Mamoré, Guajará-Mirim e Porto Velho deve se repetir em 180 anos, segundo o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam).
Réguas para leitura do nível do rio Madeira, no Porto Organizado em Porto Velho. (Foto: CPRM/Divulgação)

Os registros da elevação do rio Madeira são feitos pelo CPRM desde 1968 a partir de dois processos. De acordo Franco Buffon, engenheiro hidrólogo da companhia, o primeiro é a medição visual, feita duas vezes ao dia através de várias réguas distribuídas na margem do rio no Porto Organizado da capital.

Já o outro método é através de um radar. “Temos um radar instalado na ponte que mede a altura da lâmina d'água e registra a cada 15 minutos”, explica. Segundo Buffon, as duas medições são necessárias para ter uma maior precisão dos dados obtidos. “Às vezes a régua pode entortar por causa da força da água ou o radar pode receber interferência. Um complementa o outro”, conta o engenheiro.

Através das duas medições na régua, é calculado o nível médio que o rio atingiu durante o dia, que é o nível documentado como registro oficial. A partir daí, esses dados são compartilhados com órgãos como Defesa Civil, Delegacia Fluvial e Sipam, onde podem ser analisados em conjunto com outras informações para calcular índices de chuvas e até a probabilidade de uma nova enchente como a de 2014.

Segundo Ana Cristina Strava, chefe de operações do Sipam, a enchente em Porto Velho não deve se tornar comum e é possível estimar a recorrência desse evento. “Através de um cálculo chamada fórmula de Gumbel, podemos calcular que a recorrência desse evento é de 176,8 anos, que nós arredondamos para 180 anos. Esse não é um evento recorrente”, finaliza.

Gráfico utilizado para monitorar o nível do rio Madeira. A linha azul representa a máxima histórica. (Foto: CPRM/Divulgação)
Elevação do nível do rio
A chefe de operações explica que os altos níveis do Madeira se devem à grande quantidade de chuva nos rios que alimentam a bacia hidrográfica. “A gente consegue modelar como a chuva chega em Porto Velho quando ela cai em um determinado rio”, conta.

Mesmo quando o rio começa a secar, podem acontecer oscilações que fazem com que a água suba alguns centímetros. São os chamados 'repiquetes'. “Isso acontece quando chove nos rios mais violentos da bacia, como o Madre de Dios. Por ser um rio com muita energia, ele carrega a água com mais força e causa uma oscilação”, conta Ana.

A bacia do Madeira
Sipam monitora chuvas na bacia
 do Madeira(Foto: Marcel Rodrigues/Focas do Madeira)
A bacia é formada por rios como Beni e Mamoré, com nascentes na Bolívia; Madre de Dios, que nasce no Peru e o Guaporé, formado no em território brasileiro, no estado de Mato Grosso. O rio Madre de Dios deságua no rio Beni, e o Guaporé faz o mesmo no rio Mamoré. Os rios Mamoré e Beni se unem para então formar o Madeira. Todos os anos, o degelo na Cordilheira dos Andes e as chuvas nesses rios abastecem o leito do Madeira e causam a elevação das águas.


Enchentes anteriores
De acordo com os registros do CPRM, a última grande cheia do rio madeira foi em 1997, quando foi registada uma média diária de 17,50m. Antes disso o recorde era de 17,44m, documentado em 1984.

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Pauta e texto: Marcel Rodrigues
Edição: Marcela Ximenes

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